Opinião
A Ameaça do X
Por Pedro E. Almeida da Silva
Professor Titular da Furg, Bolsista de Produtividade do CNPq
Recentemente, testemunhamos os ataques do CEO da X (ex-Twitter), às instituições republicanas do Brasil. Nada de novo, afinal, já conhecemos bem essas bravatas da ultradireita que demanda liberdade enquanto, contraditoriamente, ataca a democracia. De fato, Elon Musk e seus simpatizantes preocupam bem menos do que o verdadeiro e perigoso X: uma nova pandemia, provocada por um microrganismo desconhecido denominado pela OMS como X.
As mudanças na forma como utilizamos a terra resultam na degradação dos ecossistemas e promovem um aumento dos contatos entre humanos e animais, favorecendo a transmissão zoonótica de patógenos. A associação com o aquecimento global amplia as oportunidades para que um microrganismo seja transmitido de animais para humanos, com o potencial desencadeamento de uma pandemia. Além disso, cientistas alertam para o risco de vírus congelados há milênios no Ártico serem liberados com o aquecimento climático, aumentando o perigo de uma pandemia de vírus desconhecidos, os chamados “vírus zumbis”.
A ameaça de uma nova pandemia coloca em dúvida a preparação global para enfrentar microrganismos ainda desconhecidos (X) ou mesmo variantes de conhecidos (como influenza, coronavírus, etc.). Após a destruição causada pela Covid-19, era esperado um esforço global na articulação e integração de sistemas de vigilância, assistência médica, promoção da pesquisa e incentivo à inovação tecnológica na área da saúde, visando uma preparação adequada para o enfrentamento de futuras pandemias. Infelizmente, isso ainda não se concretizou. De fato, nem mesmo a prudência de usar máscaras ou isolamento em síndromes respiratórias foi assimilada na população.
As ações voltadas para a vigilância baseada em inteligência epidemiológica, incluindo o uso da genômica, diagnóstico rápido, modelagem, Inteligência Artificial e rastreamento de contatos, continuam sendo limitadas. O desenvolvimento, aquisição e armazenamento de medicamentos, vacinas, equipamentos de proteção individual, diagnósticos e equipamentos médicos permanecem precários na maior parte do mundo. O Brasil ainda está distante de dispor de um sistema de vigilância, abastecimento e educação em saúde capaz de garantir a segurança de sua população diante de uma pandemia. Os investimentos e a preparação necessária devem ultrapassar os limites do setor de saúde e incluir a sociedade de forma integral. De fato, a próxima pandemia não é uma questão de “se” irá ocorrer, mas sim de “quando” irá ocorrer.
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